M. Daedalus - POESIA / POETRY
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entre Birmingham e Manchester

Repouso a caneta na desordem dos meus gatafunhos,
Deslizo na paisagem, sentindo e ouvindo cada carril.
Há infindáveis semanas que o sol está ausente,
Um verde moribundo funde-se com a neblina,
A monotonia do cenário faz-me recuar o olhar.

Infantilmente estrangulo o bilhete entre os dedos.
Passageiros dormem, passageiros tagarelam ao telefone.
A meu lado um polícia de ar soturno lê no Sun o escândalo do dia.
À sua frente uma jovem mede-o com um olhar de desdém.
No banco seguinte outra jovem acaba de se sentar.
Move-se lentamente, de forma elegante e leve.
Com ela não traz mais que um livro de bolso.
Na capa, soldados sisudos e camponeses assustados,
Turgenev, "Pais e Filhos".
O revisor faz-se anunciar.
Ela fecha o livro e esboça um sorriso.
Os nossos olhos elevam-se e encontram-se.
Entreolharmo-nos num prolongado silêncio.
Nela reencontro a serena beleza tua face,
Que acarinho no mais seguro compartimento da memória.
 

M.Daedalus

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